segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Fama Instantânea



Se acabou o tempo em que um artista para fazer sucesso e aparecer na mídia tinha que trilhar uma carreira de vários anos. Essa peregrinação em busca do reconhecimento artístico é retratada no filme brasileiro de 2006, 2 Filhos de Francisco, que relata a história de vida da dupla sertaneja Zezé Di Camargo & Luciano. Toda a dificuldade enfrentada pelos dois, do interior para a cidade grande em busca de um sonho, os aproveitadores que se fingem de caça talentos, as condições econômicas precárias foram características de vários cantores de uma geração hoje consagrada. Estou falando de cantores porque, enquanto escrevo estou escutando as músicas do novo CD da Banda Malta que eu acabo de baixar.

Vamos voltar alguns anos até a Era do Rádio, dos anos 40 a 50. Até a chegada da televisão esse era o meio de comunicação de massa com maior alcance e imediatismo. Era como ler um livro, imaginamos como são os personagens, os cenários, as expressões. Através da voz do artista sentíamos as emoções e só conhecíamos seu rosto através das revistas, jornais, shows e os esperados CDs... Ah! Me desculpem o nome exato é disco de vinil ou LP (os famosos e hoje caros bolachões). Além das músicas haviam as novelas, um espetáculo maravilhoso a parte. Vários talentos surgiram dessa época, talvez você já tenha ouvido falar em Dalva de Oliveira, Emilinha Borba, Marlene, Mário Lago, Paulo Gracindo, Janete Clair, Cauby Peixoto e muitos outros.

Apesar de ter exercido um papel de destaque na sociedade brasileira durante muito tempo, com a concorrência “desleal” da televisão, o rádio perdeu seu reinado. Na hibridez da recém-inaugurada televisão aos poucos surgiram os programas de auditório, as novelas e por consequência os novos talentos ao vivo e em cores.

José Abelardo Barbosa de Medeiros, o Chacrinha foi o grande descobridor e revelador de talentos da televisão brasileira, pelo palco do seu programa passaram artistas como Roberto Carlos, Gilberto Gil, Wanderléia, Ney Matogrosso, Fábio Jr. entre outros dezenas de artistas. Naquela época o artista não era bom somente pela sua voz, pela performance no palco, pelo carisma com os fãs, mas também pela quantidade astronômica de discos vendidos.

Atualmente a cibercultura (formada pelo estabelecimento de uma relação entre as novas formas sociais surgidas na sociedade pós-moderna e as novas tecnologias digitais) caracterizada por três princípios: pólo da emissão, conexão em rede e a reconfiguração de formatos midiáticos e praticas sociais, permitiu que qualquer pessoa tenha o direito de se mostrar ao resto do mundo. Como prova disse lhes apresento o maior e mais promissor descobridor e revelador de talentos: YouTube. Ele não é um termômetro de talento ao pé da letra, porém é a plataforma na qual os artistas atuais mais investem como forma de adquirirem uma fama instantânea, e dai para sustenta-lá tem que ter talento ou carisma e meia dúzia de fãs brigando por um pouco de atenção no Twitter. Isso não é uma crítica, ou melhor é uma crítica construtiva. Para que enfrentar tanta dificuldade em lançar um CD e depois ligar para as rádios para pedir música como o pai de Zezé Di Camargo & Luciano fazia? Essa pratica ainda é comum, além dos programas músicas de TV como Programa Raul Gil, Qual é seu talento?, The Voice Brasil, Super Star (de onde saiu a Banda Malta) entre outros. O que vemos é que mesmo aparecendo na TV, dando entrevista em estações rádio, os artistas investem pesado na relação com os fãs através das redes sociais, página no Facebook, Twitter, Instagram sempre em contato com as pessoas que asseguram a sua permanência na mídia.



A invasão na vida dos artistas é algo cada vez maior, porém à sua vantagem, a reação do público é imediata em relação a qualquer atitude vinda de seu ídolo.

As novas tecnologias transformaram o mundo artístico. Há quem critique esse surgimento meteórico dos novos artistas, porque assim como aparecem acabam sumindo depois de um tempo. Mas isso é consequência do que buscamos, a liberdade de expressão. “Agora o lema da cibercultura é “a informação quer ser livre”” (LEMOS, 2002). Então que venham os novos funkeiros, sertanejos universitários ou não, forronejos, sambagodes...
























Autora: Ana Paula Trindade

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