sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

“O verdadeiro computador é a rede”



Quando algo passa a fazer parte do cotidiano, torna-se imperceptível. Pra que tirar uma foto, revelá-la e guardá-la em um álbum de família ao qual as pessoas só terão acesso se forem a sua residência, se pode compartilha-la em tempo real com milhares de pessoas pelas redes sociais? Porque guardar seus questionamentos, seus feitos, seus pensamentos, suas descobertas se pode compartilhar com o resto do mundo?
Todos podem se tornar emissores e produtores de sentidos, compartilhando e criando conteúdos em tempo real. Essa evolução na interatividade comunicacional é promovida pela cibercultura.
A cibercultura se origina da ligação entre cibernética e cultura. A cibernética é uma ciência voltada para a tecnologia avançada. No contexto atual, a tecnologia se relaciona com a cultura, contemplando fenômenos relacionados ao ciberespaço. Segundo Pierre Lévy, o ciberespaço é o novo meio de comunicação que surge da intercomunicação mundial dos computadores.
Em seu livro Ciber-Cultura-Remix, o professor André Lemos, caracteriza a cibercultura por três “leis” fundadoras, que ajuda a entender os fenômenos do ciberespaço, o sistema pós-massivo e o contexto comunicacional atual e seus desdobramentos:

A primeira lei é a da liberação do pólo da emissão

As mídias de massa pré-digitais mantinham os indivíduos isolados, anônimos, uma massa atomizada. Seu público era passivo e homogêneo, cultivavam apenas a cultura da leitura. Se o “alvo” é alcançado, a informação obtém o efeito esperado. Com a liberação do pólo da emissão há uma compreensão verdadeira da frase de Lasswell: “Nem todas as pessoas são membros do público mundial”. A cibercultura trouxe possibilidade de ampliar a leitura, e o principal, permitiu a produção de conteúdo sem a necessidade de autorização prévia.

A segunda lei é do princípio de conexão em rede

Essa produção de conteúdo só tem sentido quando compartilhada em rede. Trata-se da segunda lei da conexão generalizada e aberta. Socializo logo existo. Começa com a transformação do PC (computador pessoal, início da microinformática em 1970) em CC (computador coletivo, com o surgimento da internet e sua popularização nos anos 80 e 90), e o atual CC móvel (computador coletivo móvel) a era da ubiquidade e da computação pervasiva desse início de século XXI com a explosão de novas tecnologias.

A terceira lei é a da reconfiguração de formatos midiáticos e práticas sociais

As pessoas devem evitar a lógica de substituição, porque a ideia de reconfiguração vai além da remediação de um meio sobre o outro. A maior prova é o fato de atualmente existirem dois sistemas em funcionamento no âmbito comunicacional: o sistema de massa da informação controlada, mediada e confiada e o sistema pós-massivo da informação aberta. Sendo esta uma era riquíssima em possibilidades de acesso a informação imediata. Não há como saber o futuro dos recursos massivos que temos hoje, porém já ficou claro que um meio não veta a circulação de outro. A televisão não acabou com o rádio, assim como os e-books não exterminam os livros físicos.
A cibercultura causou diversos desdobramentos comunicacionais, atendeu a emergência de vozes e discursos fazendo com que a informação circule de forma rápida e aberta. Hoje já existem mais objetos conectados a rede, que pessoas no mundo. O que Albert Einstein chamou de bomba das telecomunicações, foi chamado por Roy Ascott, de segundo dilúvio o das informações, por conta da natureza exponencial, explosiva e caótica de sua quantidade de dados.
Isso leva a três pontos contemporâneos que se interligam: o excesso de informação, a quantidade de dispositivos e a presença desses dispositivos no cotidiano, ou seja, Big Data, Internet das Coisas e Computação Ubíqua.


O que é cibercultura?

Cibercultura





Da era do mainframes ao paradigma da computação ubíqua

Segundo McLuhan em sua obra Os meios de comunicação como extensões do homem, o computador consiste numa extensão do sistema nervoso central do homem. Os primeiros computadores de grande porte chamados de mainframes, normalmente eram utilizados somente para processamento de grande volume de dados (O termo mainframe se refere ao gabinete principal que alojava a unidade central de fogo nos primeiros computadores).
Até o início da década de 60, estas máquinas eram construídas exclusivamente para agências governamentais e para fins militares.
Enquanto os mainframes ocupavam grandes salas e consumiam enormes recursos, em meados da década de 1970 surgem máquinas menores e mais baratas chamadas de PC (computadores pessoais), dando inicio a microinformática. Esses computadores deixaram de utilizar válvulas de vácuo para passarem a ser gradualmente transistorizados o que os levou a serem mais duradouros, pequenos, eficientes, fiáveis e baratos.
Mas o mundo só começa a dar seus primeiros passos para tornar-se uma “Aldeia Global” com o surgimento da internet e através dela o CC (computador coletivo). Afinal, “O verdadeiro computador é a rede”.
Evoluindo mais um pouco chegasse ao CC móvel (computador coletivo móvel) e a computação pervasiva. Como foi dito no inicio desse texto algo que passa a fazer parte do cotidiano, torna-se imperceptível. É assim a presença direta e constate da informática e da tecnologia na vida das pessoas.
A computação pervasiva ou ubíqua tem o objetivo de integrar totalmente a relação tecnologia/máquina com os seres humanos, de forma tal que seja invisível, no sentido de automático (utilizar sem perceber). Os computadores fazem parte da vida das pessoas de tal maneira que se tornam “humanos”, com seus sistemas inteligentes, que os tornam onipresentes.
Um exemplo prático desta funcionalidade são casas que podem ser controladas por meio da tecnologia ubíqua; iluminação pode ser acionada, ligar ou desligar televisores e equipamentos eletroeletrônicos, até o monitoramento de pessoas acamadas ou controlar os itens da dispensa pelo prazo de validade, entre outros.
O futuro breve da computação pervasiva é a interação total, não somente de celulares, computadores, televisores ou e-books, mas também de outros dispositivos como, por exemplo, vários dispositivos domésticos, geladeiras, TVs, lavadoras de roupa, cafeteiras, entre outros. Esta previsão está dentro do que se conhece como Internet das Coisas (A “Internet das Coisas” se refere a uma revolução tecnológica que tem como objetivo conectar os itens usados do dia a dia à rede mundial de computadores.).
O mundo já é repleto de informações que crescem a cada milésimo se segundo. Milhares de dispositivos estão conectados neste exato momento alimentando a rede. No balanço de dados do ano passado (2013) 43% da população brasileira tinha internet em casa, mais de 102,3 milhões de internautas, isso quer dizer que são milhares de dados lançados na rede somente no Brasil. Com a computação pervisiva e a internet das coisas a quantidade de informações vai se multiplicar e haverá a necessidade de uma organização inteligente dos dados. Nesse contexto surge o Big Data, justamente para evitar o “caos” do excesso. Big Data refere-se a um grande armazenamento de dados e maior velocidade. Diz-se que o Big Data se baseia em 5"V" : velocidade, volume, variedade, veracidade e valor.





Big Data é conceituado como um conjunto de dados extremamente grandes e que, por este motivo, necessitam de ferramentas especialmente preparadas para lidar com grandes volumes, de forma que toda e qualquer informação nestes meios possa ser encontrada, analisada e aproveitada em tempo hábil.
Com as informações em mãos uma empresa pode utiliza-las para melhorar um produto, criar uma estratégia de marketing mais eficiente, cortar gastos, produzir mais, evitar o desperdício de recursos, superar um concorrente, disponibilizar um serviço a um cliente de maneira satisfatória, no caso das redes sociais adquirir mais usuários, seguidores e etc. O Facebook é um exemplo de empresa que se beneficia de Big Data: as bases de dados do serviço aumentam todo dia e são utilizadas para determinar relações, preferências e comportamentos dos usuários.
As tecnologias atuais nos permitiram aumentar exponencialmente a quantidade de informações no mundo e, agora, empresas, governos e outras instituições precisam saber lidar com esta "explosão" de dados. O Big Data se propõe a ajudar nesta tarefa, uma vez que as ferramentas computacionais usadas até então para gestão de dados, por si só, já não podem fazê-lo satisfatoriamente.
Tomado como base apenas a internet, a quantidade de dados que são gerados diariamente somente nas redes sociais; a imensa quantidade de sites na Web e blogs; as ascendentes compras on-line por meio até do celular, quando o máximo de informatização que as lojas tinham em um passado não muito distante eram sistemas isolados para gerenciar os seus estabelecimentos físicos.
Em suma, estar em rede condiciona o indivíduo a tornar-se produtor. As informações produzidas de diversos dispositivos são em seu total valiosíssimas. O volume de dados conduz a necessidade de aproveitá-los ao máximo. Com isso, a cibercultura promoveu e continua promovendo a interatividade comunicacional na era da ampla leitura e principalmente da escrita livre.



Autora: Paula Trindade

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