Pense
em uma sociedade que já direciona o futuro das pessoas antes mesmo delas
nascerem. Pensou? Não, não é uma sociedade dividida em castas. É a nossa
sociedade brasileira e de outros países que incentivam como a criança vai atuar
no mundo, dependendo do seu sexo. Dizer que bonecas e panelinhas são brinquedos
para meninas, enquanto jogos de montar e de lógica são para meninos, só reforça
o sexismo.
As bonecas servem para treinar como ser uma
boa mãe, as princesas ensinam a esperar pela salvação do príncipe encantado e
as panelinhas a como cuidar da casa. Para os meninos, porém, os heróis que irão
salvar o mundo, a liberdade e a quase certeza de que serão engenheiros, médicos
brilhantes ou a profissão que queira, já que estão ambientados nesse mundo introduzido
em forma de brincadeira, mas que tem
sérias intenções.
Confira
agora uma menina que critica o sexismo da indústria de brinquedos:
O
movimento feminista está sempre colocando os brinquedos como pontos importantes
no direcionamento dos campos de interesse escolhidos pelas futuras “mulheres” ,
termo que precisa ser entendido como construção de gênero, porque como a
conhecida frase de Simone de Beauvoir diz: “não se nasce mulher, torna-se mulher”. As
escolhas costumam ser imposições disfarçadas.
Eu escrevi em forma de texto literário, abril
de 2014, como existe a imposição da boneca para as meninas, como forma de
aprender a ser mãe e cuidar do lar. O texto foi publicado no site da Revista Fraude - Petcom - UFBA.
O BRINQUEDO QUE ME FOI IMPOSTO
''Quando criança, eu ganhei uma boneca em forma de bebê. Não me perguntaram se eu queria outro brinquedo. Um jogo de montar, talvez. Deram-me e pronto. “Cuide da bonequinha como se fosse um bebê de verdade”, diziam-me as mentes repetitivas. Eu não gostava muito de brincar de ser mãe. Não queria cuidar. Queria correr, pular, soltar-me ao vento. Via meu irmão fazendo isso e ficava a me perguntar: Por que não eu?. “Você é menina, não pode ficar por aí feito um moleque-macho. Ele pode, você não”. Para tentar me convencer do comportamento que eu deveria ter, falavam da minha prima: “Olha pra ela, sabe cuidar direitinho da boneca. Vai ser uma boa mãe, uma boa dona de casa”. E, diante disso, eu me sentia sem as qualidades que uma menina “deveria” ter. As pessoas me diziam: “Você não sabe se arrumar feito uma menina, não é VAIDOSA”. Como se a falta de vaidade fosse um pecado, pelo fato de eu ser uma garota. Eu ficava questionando: Por que não cobravam isso dos meninos? Por que os meninos podiam ser bagunceiros e desleixados? Por que tinham vantagens sobre as meninas? E me diziam: “Porque tem que ser assim”. Mas aos poucos, ao envelhecer, fui entendendo que isso se chama construção de gênero. E que os comportamentos de mulheres e homens não foram gerados de forma espontânea, foram criados e impostos, delegando o papel de cada pessoa, de acordo com o sexo, na sociedade. E a menina que ficava se perguntando os motivos de tais diferenças, já sabe que isso não “tem que ser assim”, que pode ser mudado, que pode ser reconstruído de forma lenta e gradual. E quando me dizem: “Você é uma menina, tem que se comportar assim”, eu já não fico fraca, tentando obedecer as normas. Fico forte e digo: “Não, eu não tenho que me comportar desse jeito”. Eu não preciso ser menino para ter mais liberdade. Eu também posso tê-la.''
Mas,
como dito anteriormente, o movimento feminista, em especial, luta pela
reconstrução da destinação dos brinquedos para cada sexo. Com o acesso à Internet, as feministas puderam propagar
ainda mais essa questão, produzindo textos de protesto e conscientização, postando vídeos em seus blogs e páginas do Facebook. Portanto, esse cenário
tem mudado aos poucos, algumas indústrias estão fazendo brinquedos que
incentivam as meninas a serem engenheiras, por exemplo. Como pode ser percebido
na propaganda GoldieBlox:
As mulheres e as TIC’S
Algumas mulheres e feministas se utilizam do
ciberespaço como um novo espaço de luta contra a opressão do machismo. O que
podemos chamar de Ciberfeminismo, que teve a sua origem com a publicação do
Movimento Ciborgue: ciência, tecnologia e feminismo-socialista no final do
século XX por Donna Haraway. O surgimento também foi influenciado por atuações
artisticas dos grupo VNS Matrix (Austrália).
O Ciberfeminismo é a atuação das mulheres no
ciberespaço, que pode ser divido em duas formas: Pela internet e para a
internet. No primeiro caso, é nesse espaço em que se organizam, juntam-se e
divulgam os seus ideais e a importância da militância feminista. Já na segunda
questão, as mulheres produzem softwares livres como acontece no evento EclecticTech Carnival, com a organização desde 2002 pelo grupo Genderchangers.
Muitas mulheres já mostraram sua atuação no
campo da tecnologia. É como informa a filosofa Sadie Plant, no seu livro Mulher
Digital. Durante as duas guerras mundiais, mulheres foram requisitadas para
trabalharem com computação e nas atividades de comunicações militares. Em casos
mais particulares de mulheres na tecnologia, tem o exemplo de Sarah Flannery,
que aos 16 anos recebeu o prêmio “Jovem Cientista do Ano” pelo trabalho de
criptografia na Internet, e por isso ela foi descrita como “hacker de 16 anos”.
Contra o sexismo machista dos jogos computacionais e com a violência sendo
banalizada, a designer e hacker Anne-Marie Schleiner criou o projeto
Mutation.Fem., que é cheio de ideologia feminista.
Redes sociais: F de Feminismo e de Facebook
Nas
redes sociais, em especial o abordado Facebook, os movimentos feministas
discutem através dos grupos - sobre as bandeiras do feminismo (legalização do
aborto, por exemplo) como NEIM (Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a
Mulher) da UFBA.
Com
esse espaço mais amplo, o feminismo negro conseguiu ter voz também. É preciso
fraccionar a luta das mulheres negras das brancas, porque elas, além de
sofrerem a dominação de gênero, sofrem a de raça. Uma página muita conhecida
pelo movimento feminista é a “Geledés Instituto da Mulher Negra”, uma
organização não governamental que discute essa interseccionalidade.
A última página a ser citada aqui é sobre GIG@
(Grupo de Pesquisa em Gênero, Tecnologias Digitais e Cultura) da UFBA, de
Graciela Natansohn, doutora em
Comunicação e Cultura Contemporâneas. A pesquisa é voltada nas relações de
gênero e o desenvolvimento das tecnologias digitais.
Mas
apesar dessa demonstração de participação das feministas na Internet, e com isso
parecer que estamos envolvidos no tema, Graciela escreveu o artigo “O Ciberfeminismo Desencantado” no qual expõe que, mesmo depois de 30 anos que o
movimento de mulheres e feministas se potencializaram na internet, o
Brasil ainda está caminhando lentamente
em relação ao Ciberfeminismo. O artigo é para se referir ao livro “Internet em
Código Feminino: teorias e práticas”. A questão é que o Brasil tem poucas
referências fortes de ciberfeministas, ou pouca divulgação delas, porque na
verdade, são raras as pessoas que conhecem o movimento Ciberfeminista ou que ao
menos tenha ouvido falar.
Menina
que inventou o carro que não contamina: “o meu talento é a tecnologia”:
Autora: Aline Valadares
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